A arte de comer pipoca doce
Até hoje, na era da (des)informação, nessa sociedade do espetáculo existem pequenos tentáculos de idade média repuxando o pano da realidade na direção de crenças absurdas e misticismos infundados. Quando alguém crê, mas crê de verdade, numa figura mitológica, esse alguém alimenta um pouco mais os tentáculos de idade média que se emaranham em nossa realidade contemporânea e carregam em si mitos obscuros.
Mas eu mesmo, entrépidos leitores, nutria falsas asserções com a fé de um frei capuchinho. Eu acreditava que se eu comesse pipoca doce vermelha vendida na rua eu ia morrer.
É sério! Quando era criança ouvi dizer que essa pipoca vermelha que o pipoqueiro comercializa tem algum ingrediente sinistro que faz o coração inchar e explodir. Essa lenda já era suficiente para que eu antagonizasse qualquer pipoqueiro! Não imaginava meu peito rompendo nem meus órgãos internos explodindo numa mistura de alien com a virada do ano em copacabana, minha imagem do efeito da pipoca doce era muito mais mórbida.
Pior que qualquer veneno, você vai sentindo-se inchar por dentro cada vez mais, até que as costelas começam a esmagar o coração como uma esponja velha e disforme, vazando sangue por toda parte interna do corpo o que o faz fluir para fora pelos poros, pontas dos fios de cabelo e debaixo das unhas. A boca se enche de uma mistura de sangue e corante vermelho mas essa morte não era rápida, não senhor, seriam várias horas de agonizante lucidez amarrado a uma cama de hospital, sozinho num quarto absurdamente iluminado enquanto no corredor lá fora médicos sem rosto acotovelam-se sem saber o que fazer.
Mas essa semana eu comi pipoca doce, do pior tipo! Aquela vermelha, vendida na rua e estou vivo e bem, mais um tabu derrubado! Gritem aos quatro ventos: a pipoca doce vermelha que se vende no carrinho é inofensiva, viva os pipoqueiros injustiçados pela inquisição das crianças campograndenses.
Um novo mundo, muito mais belo e emocionante se abre para mim, eu venci a obscuridade! Eu venci os misticismos! Ainda bem que estava com meu pé-de-coelho e meu trevo na minha mochila, que me dão sorte e sem eles aposto que não teria tido forças para comprar a pipoca doce.
PS: Sim, a volta do 2Kilos é motivdada pelo nascimento do blog da minha querida Vivis, vida longa ao Tem Muita Gente Aqui!